Até 2004, a Raven era conhecida basicamente por seus jogos de tiro para PC, como as séries "Heretic" e "Hexen", e "Jedi Knights II: Jedi Academy". Mas, no ano em questão, foi escolhida para produzir "X-Men Legends", um dos melhores games já criados tendo os famosos mutantes da Marvel como tema.
A sacada foi pegar a fórmula vencedora de "Diablo" e trocar os guerreiros medievais pelos heróis dos quadrinhos. A continuação aparou as arestas e, agora, com "Marvel Ultimate Alliance", o universo foi expandido para além dos domínios mutantes. Como o nome diz, é a última palavra sobre uma superliga, tanto de heróis como vilões.
Lendas da Marvel
"Marvel Ultimate Alliance" é um jogo de ação com um pouco de RPG. Tem visão aérea e o jogador controla um grupo de quatro heróis - um de cada vez, evidentemente -, enfrentando diversos capangas e supervilões. Mas, em meio a muita pancadaria, ainda há espaço para alguma exploração, testes de conhecimento e quebra-cabeças.
O enredo começa banal, mas se mostra mais complexo à medida que se desenvolve. Aqui, Dr. Destino junta uma verdadeira seleção de vilões, incluindo Ultron, Galactus e Mandarim, e ataca uma nave da S.H.I.E.L.D., a agência de inteligência e contra-terrorismo do mundo da Marvel. O pedido de socorro é atendido por uma reunião de heróis, formada por Capitão América, Homem-Aranha, Thor e Wolverine.
Esta é a premissa de "Marvel Ultimate Alliance": juntar um monte de notáveis para brigar contra os grandes malfeitores dos quadrinhos. E haja personagem. Entre ordeiros e contraventores, são quase uma centena de caras famosas, e outras nem tanto.
Entre os heróis que o jogador pode controlar estão 16 personagens iniciais. Além dos quatro do começo, ainda há rostos do Quarteto Fantástico, os Vingadores e os X-Men, sem falar nos menos conhecidos como Deadpool e Motoqueiro Fantasma. Há ainda inserções como Elektra e Blade, talvez por terem sido feitos filmes sobre esses heróis.
Nos consoles de nova geração (Wii incluso), ainda há mais dois personagens exclusivos: Colossus e Cavaleiro da Lua. Os portáteis também têm sua cota de heróis próprios: no PSP, são quatro, incluindo Ronin e Viúva Negra, e no Game Boy Advance aparece Jean Grey e Namor.
Demolidor de botões
Quem já jogou títulos como "Diablo" já tem noção clara de como funciona o game. Mas não se trata de nada complicado: a regra básica é bater em quem aparecer pela frente. O bom do game é que ele tem controles completos, mas tudo pode ser resolvido de maneira simples. Há botões para golpes fracos, ataques fortes (a potência é proporcional ao tempo que mantiver o botão pressionado), arremessos e as habilidades especiais de cada herói. Mas, nas dificuldades menores, é possível resolver a maioria das pendengas com o botão de golpe fraco.
Naturalmente, você pode lutar de maneira mais eficiente ao combinar golpes, fazendo seqüências de várias maneiras. E alguns oponentes são suscetíveis a apenas alguns tipos de ataque: os que têm escudo, por exemplo, devem ser atacados por trás.
Cada herói também tem uma série de habilidades especiais. Eles são diferentes para cada um, mas podem ser agrupados em ataques de longa distância, golpes rotatórios, ofensivas que mandam o oponente para o alto e turbinadores de capacidade (aumento de velocidade, força, resistência etc).
Alguns poderes especiais exigem um pouco mais que apertar botões. O mais "interativo" deles é o arremesso do escudo do Capitão América, que pode ser controlado (apesar de, na prática, não valer a pena fazê-lo, já que o movimento é muito rápido). Outros exigem que o botão seja pressionado por um tempo ou que se aperte sucessivamente, como a bola de fogo do Tocha-Humana.
Há muita diferença na eficiência entre os heróis. Elektra e Blade, por exemplo, são muito fracos em relação a um Wolverine, o que faz todo o sentido dentro do contexto dos quadrinhos. É verdade que todos podem evoluir e o game não fica muito mais difícil por causa disso, mas é uma desvantagem que carregam desde o início.
Muita pancada e um pouco de cabeça
Os combates tendem ser uma bagunça, já que são quatro heróis mais uma porção de inimigos, um verdadeiro pandemônio. Isso vem dos games passados, mas há uma diferença fundamental: agora, os inimigos tendem a concentrar os ataques no personagem que o jogador está controlando. Assim, você pode - e deve - focar sua atenção em seu herói do momento.
Como dito, é preciso usar a cabeça em certas situações: há inimigos que são vulneráveis a alguns tipos de ataques e M.O.D.O.K. não deixa prosseguir se não responder às suas perguntas. Aliás, muitos chefes não podem ser derrotados com golpes comuns. O dragão Fin Fang Foom somente volta para o solo quando derrubado pela artilharia, e Ymir, o gigante gelado, necessita que se pressionem os botões pedidos na tela numa espécie de teste de reflexo. É igual aqueles eventos interativos vistos em "Resident Evil 4" e "God of War". Há minigames que usam essa mecânica, como no capítulo especial dedicado ao Capitão América.
Super-heróis também evoluem
Ao derrotar os inimigos, os personagens ganham pontos de experiência e, ao acumular um determinado patamar, o nível sobe, aumentando sua força. Isso é uma mecânica clássica da maioria dos RPG. Ganha-se também pontos de habilidade, que podem ser distribuídos aos golpes, a fim de torná-los mais fortes. Itens também melhoram alguns aspectos dos heróis.
Enfim, o sistema de desenvolvimento é completo e até permite remanejar os pontos de habilidade. Quem achar muito complicado ou não tiver paciência para ficar mexendo em menus, o game já vem, de fábrica, no modo automático, que distribui pontos e itens sem a intervenção do jogador. Assim, se ele quiser pode se concentrar apenas nas partes de ação.
Pode-se ganhar experiência também respondendo às perguntas que medem o conhecimento do jogador sobre o mundo da Marvel. Há desde perguntas simples, como o material que cobre os ossos de Wolverine, até algumas que apenas quem aprofundou nesse universo poderia saber, como o planeta natal de Fin Fang Foom. De qualquer maneira, não há tempo-limite para responder as perguntas e, muitas vezes, as respostas surgem de conversas com alguns companheiros. A mesma coisa acontece com os quebra-cabeças do game, que são muito simples em sua maioria. Mas, mesmo quando surgem questões mais complicadas, o game não demora a entregar a solução.
Além do desenvolver individualmente os personagens, você também pode evoluir um time. Dependendo da composição do grupo, todos os integrantes podem ganhar um bônus extra. Por exemplo: ao reconstituir os Vingadores, com Capitão América, Thor, Homem de Ferro e Sra. Marvel, ganha-se 5% a mais em poder de ataque. Valem também os Novos Vingadores e o clássico. Há também formações do Quarteto Fantástico, X-Men, um só de mulheres, só com agentes da S.H.I.E.L.D. etc. A lista é extensa.
Isso não impede o jogador de criar seu próprio time. Quanto mais mantiver a formação, maior os pontos de respeito. A cada 100, o "team level" sobe. Você pode trocar um integrante sem perder a evolução, ao custo de 50 pontos de respeito, mas, ao progredir o time, é possível aumentar o "banco de reservas" do grupo.
Liga da Justiça virtual
O game é basicamente linear, mas há algum espaço para exploração. A maioria dos itens está em lugares óbvios, mas há aqueles mais escondidos ou em locais pouco acessíveis. Nesse caso, geralmente, você precisa de um herói voador para buscar o artefato. Alguns inimigos deixam armas para você e esse é um momento para ir à forra, pois estes itens costumam ser muito poderosos. Com o dinheiro ganho matando inimigos, você compra melhorias para o seu personagem.
Há bastante conteúdo no game, pois a aventura principal já é bastante longa, exigindo quase 20 horas para terminar. Essa conta não inclui as missões solo, que quase todo personagem tem. Para acessá-los é preciso encontrar o disco de treinamento virtual, escondido nas fases. Como o nome diz, nessa modalidade cada guerreiro luta sozinho, o que pode ser complicado para aqueles menos favorecidos, ainda mais por haver uma avaliação no final da fase.
O jogo também traz modalidades multiplayer para até quatro pessoas, tanto offline como online (menos no Wii, que tem apenas o modo com tela dividida). Há a forma cooperativa e a competitiva - ambas funcionam como na campanha para uma pessoa, mas na segunda opção os jogadores lutam contra os inimigos e entre si, disputando quem derrota mais oponentes, destrói mais objetos, pega mais itens etc.
O online funciona de forma satisfatória em todas as versões. A ocorrência de atrasos de comunicação depende da conexão de cada jogador, mas o "lag" acomete mais as edições para PlayStation 2 e PSP, que notadamente tem uma rede online inferior. Além disso, quando todos usam os poderes ao mesmo tempo, costuma ficar bem lento.
Os controles são diferenciados no Wii, que usa o sensor de movimento para todos os golpes. Como é um game de esmurrar botões, o jogador tende a se cansar fisicamente de tanto repetir os movimentos. Fazer os especiais é mais complicado e perde a graça depois de algum tempo. Uma das poucas vantagens é podem ativar qualquer especial a qualquer hora, assim como no PC. Nos consoles, é possível cadastrar até quatro golpes nos botões. O sensor do controle do PlayStation 3 é usado em alguns minigames, e também não chega a acrescentar muita coisa na experiência.
Gráficos e sons não tão super
O visual do jogo não é dos melhores. De fato, o ângulo de visão não permite tomadas mais dramáticas e como tudo está meio longe e pequeno, o impacto também não é muito grande. As edições para Xbox 360 e PlayStation 3 são superiores, com resolução alta, texturas melhores, efeitos idem e iluminação mais complexa. Porém, o console da Microsoft leva vantagem na suavidade das animações. O PC pode chegar ao nível dos consoles de nova geração com uma boa placa.
O "segundo pelotão", formado pelo Wii, Xbox, PlayStation 2 e PSP, também está equilibrado. Não tem a mesma definição da nova geração, mas estão à altura de suas capacidades. Porém, mais uma vez, a Sony leva desvantagem na taxa de quadros. Não que seja impraticável, mas está no limite de interferir na controlabilidade. O PSP ainda sofre com a tela pequena, que deixa os lutadores ainda menores.
A trilha sonora é típica de filmes, conduzida por uma orquestra. É uma opção que quase nunca falha, devido à sonoridade rica. E, quando bem executada, como é o caso, sempre acrescenta à experiência de jogo. Não há exatamente uma dublagem, mas falas curtas que são usadas em determinadas situações, e se repetem à exaustão.
Aliança dos titãs
"Marvel Ultimate Alliance" tem as mesmas qualidades da série "X-Men Legends" e quem já passou pelos antecessores deve amar o novo game de cara. Mesmo quem não suporta a parte RPG desses títulos pode se divertir, pois o jogo cuida automaticamente do desenvolvimento dos personagens, se assim quiser o usuário. Com uma extensa lista de heróis e vilões, e um conteúdo extenso, é um jogo que valoriza o investimento. Melhor ainda se você for fãs dos quadrinhos.