Quando "Ninja Gaiden" chegou em 2004, com uma mecânica excessivamente veloz e lutas prazerosas, sem deixar de lado alguns elementos que consagraram a série no passado, como a dificuldade elevada, estava claro que ele era um dos melhores jogo de ação já feitos. "Ninja Gaiden II" não reinventa a roda e nem altera o que já era bom no anterior. Ele é, na verdade, uma espécie de reprise de seu antecessor, com novos cenários, armas, golpes, chefes e tudo o mais que se esperava de um jogo da série. As novidades são meramente cosméticas.
Ninja do Futuro
'Artesão do videogame'
Uma das melhores características da série, a ambientação, nunca foi tão bem explorada quanto em "Ninja Gaiden II". Por mais que a história exista, ela não faz muito sentido e, para dizer a verdade, funciona apenas como uma desculpa para levar o ninja aos cenários mais exóticos, como uma Tóquio futurista ou uma Nova York pós-apocalíptica. Resumidamente, o vilão rouba um artefato mágico e o usa para abrir os portões do inferno, cabendo ao ninja Ryu Hayabusa perseguí-lo ao redor do mundo, enquanto derrota forças malígnas. Ainda assim, o jogo é repleto de cenas animadas em tempo-real de qualidade e direção impressionantes.
Mas se o que importa aqui é a ação visceral, então não há com que se preocupar. A mecânica não muda muito em relação ao jogo de 2004: além das lutas, que estão muito mais sangrentas, há elementos de plataforma, exploração, acrobacias à "Prince of Persia" e batalhas contra chefes impiedosos. Inicialmente, são dois os níveis de dificuldade, sendo o primeiro ideal para novatos, mas que já apresenta um bom nível de desafio, e o segundo para jogadores realmente "hardcore".
Ryu está ainda mais mortal com seu arsenal de espadas, lâminas, garras, facas e foices, além dos tradicionais shurykens. Há uma variedade tão grande de armas brancas, de longa distância e poderes especiais, adquiridos aos poucos entre longas 14 fases, que o jogador nunca se sente desprovido de opções para matar. Com seu progresso, você vai adquirindo novas habilidades e pontos que podem ser trocados por itens de energia ou magia, atualizações para as armas e pontos extras de saúde, que o tornam mais forte, ágil e resistente.
Zedonius e os poderes do inferno
Por mais difícil que o jogo possa ser, as batalhas são extremamente fluidas e sem grandes complicações. Com os botões Y e X você desfere golpes rápidos e fortes, respectivamente. Combinando os ataques, você cria combos únicos e altamente devastadores, que fazem picadinho de seus inimigos, literalmente. Cada arma possui sua própria série de golpes, a maioria muito satisfatórios, e há uma variedade imensa deles para descobrir. Cabe ao jogador identificar qual seu estilo favorito, como os golpes ágeis porém leves das facas ou a devastadora e lenta foice, e desenvolvê-lo.
Desmembramentos são constantes em "Ninja Gaiden II". Ao desferir golpes certeiros em seus inimigos, você pode arrancar braços, pernas, cabeça ou até mesmo explodir seu oponente. A violência explícita não chega a chocar, pelo contrário, provoca risos de tão cômica que pode ser. Decepar as duas pernas do inimigo e ver seu tronco cair em pé, para logo em seguida tombar no chão, pode parecer cruel demais, mas dentro do contexto do jogo, a cena se torna engraçada. A novidade não é apenas perfumaria: inimigos desmembrados, desde que ainda consigam se mover, tornam-se ainda mais mortais, e podem se sacrificar e levar junto metade de sua barra de energia.
Sendo assim, as lutas se transformam em um verdadeiro balé sangüinário, com jatos de sangue lançados pelo ar e manchas que tingem o cenário de rubro. O efeito, em geral, é muito bem feito, mas vez ou outra é possível perceber borrões vermelhos que "flutuam" no ar ao atingirem superfícies irregulares - um defeito gráfico bizarro, mas que não atrapalha em nada.
Para ninjas "hardcore"
Comparado à "Devil May Cry 4", outro excelente título de ação para Xbox 360, "Ninja Gaiden II" é muito mais frenético. Enquanto os oponentes do jogo da Capcom são geralmente lentos e podem ser esquivados com facilidade, aqui é praticamente impossível fugir dos inimigos, que te perseguem e atacam ininterruptamente, até que você acabe com todos - ou eles com você. A inteligência artificial dos inimigos chega a impressionar, devido a capacidade deles de copiar seus movimentos, inclusive corrida pelas paredes e escaladas.
Há muitos pontos para salvar a partida em cada fase, todos estrategicamente posicionados, portanto, se você morrer, o que pode acontecer com uma certa freqüência nos níveis de dificuldade mais difíceis, você não perderá muito de seu progresso, diminuindo a sensação de frustração, embora ela ainda exista.
Ryu e Sonia
E já que a comparação com "Devil May Cry 4" é inevitável, aqui não há a necessidade de voltar para cenários já explorados, e mesmo os quebra-cabeças são bem mais simples e intuitivos, o que é uma grande vantagem. Os caminhos a seguir são sempre muito claros e raramente você ficará preso em algum lugar, sem saber o que fazer em seguida. Cada fase dura em média meia hora e, dependendo de sua performance, é possível terminar o jogo em menos de 10 horas. Pode parecer pouco, mas há uma quantidade significante de extras para destravar, que funcionam como um bom incentivo para começar a aventura do zero.
Comparado às lutas contra chefes, o desafio enfrentado pelo jogador no decorrer das fases chega a ser pífio, de tão desumanos e impiedosos que são. Sempre há alguma tática especial para derrotá-los, porém nem sempre a mesma é clara, o que torna impossível vencer logo na primeira tentativa. Deixando de lado a frustração, essas batalhas geralmente impressionam tanto pelo aspecto visual (todos os chefes são muito bem modelados e animados) quanto pelo planejamento das cenas.
Polidez acima de tudo
À primeira vista, "Ninja Gaiden II" se parece muito com seu antecessor, não apenas pela mecânica mas pelo estilo de animação dos personagens, muito rápidos, e pela câmera, que insiste em se posicionar atrás do personagem por mais que você tente deslocá-la. Ela não chega a ser um problema, pois durante as batalhas o campo de visão do jogador é amplo e raramente ela se enrosca no cenário, tirando o foco da ação, mas durante os momentos de exploração, pode incomodar.
Decapitações e acrobacias
Graficamente, há um grande salto entre o primeiro jogo, que já era um primor para sua época, e a continuação. A diferença é que, se o original causou um forte impacto por apresentar modelos em 3D com um número elevado de polígonos e cenários bastante detalhados, algo que ainda era difícil de se ver em 2004, "Ninja Gaiden II" apenas segue o padrão visual dos bons jogos de atualmente.
No mais, os gráficos são muito bons, com cenários belíssimos e incrivelmente amplos e detalhados. Não há como não se surpreender com a primeira fase, por exemplo, em que a ação acontece em cima de prédios e templos na versão futurista de Tokyo, com visão para toda a cidade iluminada. A direção de arte mostra-se impecável em momentos como este. Em contrapartida, há cenários mal aproveitados e que não impressionam tanto, como a fase de Nova York, que rapidamente troca as avenidas repletas de prédios e "outdoors" por túneis sem vida. A taxa de quadros é, geralmente, bem fluida e constante, mas não espere que isso dure para sempre, pois há quedas substanciais em momentos mais caóticos.
A trilha sonora é parecida com o que já havíamos ouvido em jogos anteriores, às vezes um pouco mais high-tec, com muitos sons eletrônicos misturados à melodias tradicionais japonesas, às vezes mais voltado ao rock. Em geral, ela acompanha muito bem o clima dos cenários e da ação, com músicas mais pesadas em momentos de grande tensão e calmas durante a exploração.